quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ex-patriada

Depois da separação sigo numa dificuldade em destituir o nós
Um nosso
Porque não sou mais Eu
Não é mais Ele
Não somos Nós
É um cômodo-imenso-incômodo
O quarto, um enorme vazio claustrofóbico
Diálogos desacompanhados
Seguido por silêncios parafraseados
A unidade desvinculada do seu próprio nome
Eu, Tu, Ele, Ela
Eu fui...
Quem é ela?

Entre três andares

Dentro do elevador uma nuvem de palavras deixa que os andares de tempo passem em brancas lacunas.

A porta se abre e num susto esperado ela segue num corredor de silêncio para a porta que deixa de fora o que deveria estar por dentro.

Observa, com os olhos fixos de fantasia e fumaça, rosto a rosto disfarçadamente para si mesma.

E caminha sem saber dos passos nem de coisa alguma.

Perde a atenção para um arco-íris preto e branco. E volta os olhos para dentro de si procurando apenas uma cor na aquarela em que tudo fica misturado.

Incompleta percebe aquela cor que está, mas não lhe pertence.

Porque não há tinta

Não há pincel

Há só uma tela em branco e uma folha com rasuras

- “Olha quem vem ali!”.

Quanta beleza perde-se num sonho...

Conjuntivite – 25/02/2008

Olho para minha mesa bagunçada, e me parece (por vezes) mais familiar que a minha própria casa.
O teclado,
Os papéis em desordem,
A garrafa plástica com um vestígio de água.
O copo de café sem cinzas, sem vestígios do café.
Um corpo com vestígios, metade cheio.
Depois de um dia cheio, metade sem Fé.
Tintas e anotações sem sentido daquelas anotações que registro com meus olhos acesos.
Minha vida permanece sentada enquanto eu permaneço igualmente sentada como estou agora.
Então levanto-me, cheia de coragem, como quem vai ousar
Com o espírito voltado para grandes realizações.
Mas logo me perco...
Estímulos me distraem.
Então, desço os elevadores e me desafio a fumar um cigarro.
(Todos os dias eu fumo, pelo menos, um cigarro).
E me testo quando desço os elevadores tentando ficar presente.
Me testo ao acender o cigarro, correndo poesia no pensamento.
E aconteço na minha prosa particular quando decido caminhar com verdadeiro movimento,
Como se derradeiro ele fosse...

[Não se caminha com movimento normalmente, as pessoas caminham estáticas porque não sabem de si, não se pertencem]

Mas o que me movimenta é aquela que sente
Aquela que se move dentro daquilo que sente (como se não fosse eu)
E meus olhos vêem e movem cores em mim, mas nos olhos dos outros...
Porque os meus estão inflamados...